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Presença feminina no basquete: a desigualdade em relação à masculina

Como mulheres que têm a vida marcada pelo esporte lidam com o problema

reportagem: LORENA aguiar

EDIÇÃO: Letícia sarinho

É fato que o basquete é um esporte com uma grande quantidade de praticantes e fãs, o que faz com que esteja na lista dos dez esportes mais populares do mundo. No entanto, assim como na maioria dos esportes, quem tem mais relevância e audiência são os times masculinos. No Recife, existem times femininos que vêm se destacando recentemente e lutando para fazer com que a modalidade feminina do esporte seja mais valorizada.

Uma das atletas que busca essa valorização é Rayane Cássia, que se apaixonou pelo esporte quando, aos oito anos, viu um treino de basquete. A partir daí, entrou para o time de base Nosso Clube, em que ficou até os 17 anos. Atualmente, com 19, dedica seu talento ao time da Uninassau. “Treino no mínimo três vezes na semana. Os campeonatos são poucos mas nos dedicamos bastante para irmos para o pódio quando algum aparece”, comenta.

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No começo de setembro, a capital pernambucana sediou o Campeonato Brasileiro de Basquete Feminino Sub-21, uma conquista para Rayane. “Foi uma experiência única, o primeiro campeonato aqui no Recife. Ir para o pódio em segundo lugar foi muito gratificante”.

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Apaixonada pelo basquete, conta que é seu primeiro e único amor e que tem vontade de seguir carreira, mas há obstáculos. “Aqui em Pernambuco, há poucos times e poucos campeonatos. A diferença na visibilidade e no ritmo comparado aos times sulistas é muito grande”. Além disso, há outra dificuldade: a diferença de visibilidade entre as modalidades masculina e feminina, fator diante do qual Rayane se sente impotente. “Como jogadora, a única coisa que posso fazer é treinar e correr atrás de mais campeonatos”. 

 

Outra mulher que tem a vida marcada por esse esporte é Ingrid Vasconcelos, que vem de uma família do basquete: pai e mãe jogaram na seleção brasileira. Hoje, com 25 anos, sente falta do esporte que jogou desde os 12, mas teve que parar porque não dava um retorno financeiro suficiente. Para ela, o basquete ensinou muitas lições. “Ser atleta não é ser uma pessoa normal, é ser diferenciado. Você entende o que é hierarquia, aprende a respeitar, aprende a jogar em equipe, porque só junto é que a gente consegue chegar em algum lugar”.

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Diferentemente de Rayane, que se sente impotente quanto à diferença entre os times masculino e feminino, Ingrid acredita que o segredo para mudar a situação está na formação das novas gerações. “As mulheres precisam ser criadas em relação ao esporte também e, desde a infância, se relacionar mais com o meio do esporte. Tem que parar com essa ideia de que é coisa de menino, porque é de menina também”. 

 

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O basquete, como um esporte que trabalha o corpo inteiro, é uma forma de se manter saudável física e mentalmente, aspectos imprescindíveis na vida de todos, principalmente dos adolescentes, que passam por intensas mudanças e ficam mais vulneráveis. Para Ingrid, o esporte não está sendo tratado com a importância que deveria. “No ensino médio, a primeira coisa que as escolas fazem é tirar educação física da grade das crianças. Aí a gente tem uma fase de jovens com problemas psicológicos de insegurança, ansiedade, porque tem muita pressão nos estudos e esquecem do principal, que é o corpo”.

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Atualmente, no Recife, uma das mulheres que muda a vida de crianças por meio do basquete é Adrianinha. Com uma carreira de longa duração e destaque na seleção brasileira como jogadora, agora, aos 40 anos, ela se dedica ao trabalho de técnica no Adrianinha Basketball. A associação que criou para dar continuidade ao trabalho com o esporte surgiu por causa da sua paixão pelo basquete e pela vontade de usá-lo como meio de transformação social. “Trabalho em prol da modalidade, devolvendo tudo o que o esporte deu pra mim em termos de oportunidades”.

Adrianinha revela também que é de extrema importância ter eventos e competições sediadas no Recife para que, cada vez mais, os jovens se interessem pela modalidade e sejam incentivados a jogar. Ela reconhece que há muitas diferenças entre o gênero feminino e masculino no mundo esportivo. “Tem muita diferença de oportunidades, salários, investimentos, premiações e visibilidade. E, na maioria das vezes, o público dos torneios masculinos é bem maior”. 

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Quem concorda com a opinião de Adrianinha é a fisioterapeuta esportiva Gizelle Fernandes. Com uma vivência de 20 anos no mundo esportivo, a experiência dela é com pessoas que julgam e masculinizam as mulheres. Aos dez anos, influenciada pelas amigas da escola, Gizelle começou a treinar. A partir daí não parou mais. Até a decisão sobre qual profissão iria escolher foi influenciada pelo basquete. Hoje em dia, atua como fisioterapeuta no Nosso Clube, e, mesmo sem ter um retorno financeiro, treina duas vezes por semana com o time recifense Aurora.

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A paixão é tanta que só trabalhar com o esporte não é suficiente: ela também é fã de carteirinha e conta que sempre acompanha tanto a WNBA (Liga Profissional de Basquete Feminino dos Estados Unidos) como a NBA, que é a principal liga de basquete profissional da América do Norte. Além de acompanhar os jogos, ela também tem camisas dos times preferidos e atualiza sua coleção de tênis de basquete anualmente.

 

Para ela, a solução para ter mais igualdade no cenário atual é reconhecer as diferenças entre as modalidades masculina e feminina e, ao mesmo tempo, saber da necessidade delas. “Acho que tudo pode melhorar se as pessoas acreditarem que os esportes masculinos e femininos são diferentes sim. Porém, os dois têm a mesma importância: representam o Brasil e seus times, e os jogadores têm que ser valorizados da mesma forma”.

"Tem que parar com essa ideia de que é coisa de menino, porque é de menina também"

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