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"Por que isso é coisa de menino?"

Marina Rodrigues, de 22 anos, mostra que é possível jogar os preconceitos e tabús para fora da rede.

reportagem: Isabela AguiaR

EDIÇÃO: Letícia Sarinho

A trajetória das mulheres no futebol é marcada primeiramente pelos reveses. Até 1979, a prática de mulheres nesse esporte era proibida e, mesmo em 88, quando foi formada a primeira seleção feminina de futebol do Brasil, o tema ainda era um grande tabu. Hoje, elas não causam mais tanto estranhamento com a bola nos pés, mas continuam a enfrentar obstáculos como a falta de suporte, incentivo e patrocínio em relação à modalidade masculina.


O futebol é um espaço de hegemonia masculina em vários sentidos, não só no âmbito profissional. Um homem é convidado a participar do universo do futebol mesmo antes de nascer, com a descoberta do sexo da criança. Já nos chás de bebês costumam receber bolas de presente e são estimulados a praticar o esporte desde muito novos. Por outro lado, ao descobrir que a criança será uma menina, apenas um leque bem reduzido de possibilidades se abre. Essa dinâmica cultural brasileira, em que as tarefas domésticas, por exemplo, são automaticamente atribuídas quase que em sua totalidade ao papel da mulher, impede até mesmo que as meninas tenham tanto tempo de lazer quanto os homens.


Justamente pelo fato de ser um ambiente hostil no que se refere à introdução e participação de mulheres, é que essa atividade, quando performada por gosto e querer, tem significado tão forte. Um exemplo de resiliência é o  Realeza Futebol Clube, na ativa há três anos. Todo sábado, das 9h30 às 12h, reúne no JetClube, no bairro recifense da Ilha do Leite, quantidade suficiente de jogadoras para esquematizar quatro times que se revezam em jogos com duração de dez minutos. Ligam caixinha de som, escolhem as músicas, levam frutas e água e fazem daquele hábito uma oportunidade de encontro, atividade física, descontração e resistência.


A pelada do Realeza é aguardada com ansiedade por Marina Rodrigues, uma das idealizadoras do time. Ela tem 22 anos, é formada em Administração e considera esse momento o ponto alto de seu lazer. “A gente passa a semana toda trabalhando, estudando, com suas responsabilidades e quando chega o sábado quer desestressar”, admite. A jovem diz que jogar futebol com as amigas é uma das coisas que mais gosta de fazer na vida, mesmo que o objetivo seja somente diversão.


Marina se sente atraída pelo esporte desde criança, quando frequentava as partidas de futebol do bairro junto com o irmão, por vezes escondida da mãe, que a proibia de aparecer nos jogos por ser a única menina participando. Embora esse tenha sido um grande obstáculo na época, pouco a pouco,  o tabu sobre futebol ser “coisa de menino” foi sendo quebrado em casa. “Eles (os pais) sempre falavam, mas eu sempre questionei. Nunca deixei de jogar bola”, garante, lembrando lugares por onde passou antes de formar o Realeza Futebol Clube. O apreço pelas partidas semanais são fruto da persistência e é esse afeto que transforma o significado de uma simples pelada. “Se eu tô triste, venho pra cá e fico feliz”, reflete Marina sobre sua relação com a atividade. E conclui rindo: “é paixão, né? Não tem outra palavra pra isso não”.

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