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Não é só futebol

(e nem só o futebol)

Com grande poder de mobilização, o esporte e seus representantes têm uma grande responsabilidade perante questões sociais e políticas

reportagem: TEREZA FERRAZ

edição: lETÍCIA SARINHO

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foto: esportivo executivo

O esporte aproxima a população de assuntos importantes

Há quem diga que a arte é feita somente para ser bela. E há quem afirme que ela deve transmitir uma mensagem. São ideias interessantes, e não necessariamente antagônicas: é completamente possível, por exemplo, passar um recado numa estrutura de soneto, em dois quartetos e dois tercetos. Em outras palavras, o potencial estético não significa o fim do potencial reflexivo. O mesmo ocorre com o esporte.

Assunto de mesa de bar e programação de tarde de domingo, a agenda esportiva (no Brasil, sobretudo o futebol) é usada para entreter pessoas de todas as idades, países e classes sociais. É democrático e fácil de se pautar: está nas análises dos jornais, nas narrações do rádio, nos shows de imagens da TV. Naturalmente, em uma atualidade tão conectada, líquida e, por que não dizer, exibicionista, as tentações de enveredar pelos caminhos do entretenimento puro não são poucas. Contudo, isso seria um desperdício e uma grande desfeita histórica com o lado social do esporte.

Quando torcidas, atletas, clubes e federações entendem e abraçam o potencial transformador do esporte, grandes coisas podem ser feitas. Graças à sua natureza popular e democrática, é possível, por meio dele, mobilizar pessoas, chamar atenção para causas relevantes, manifestar-se contra aquilo que está errado. O esporte, seja no estádio ou fora dele, é um ambiente livre, onde o único “conflito” que interessa é a disputa (pacífica, vale dizer) pela vitória. Em sociedades desiguais e preconceituosas, ele acaba por ser, muitas vezes, o mais próximo de justiça que certos grupos podem vivenciar, afinal, ao contrário da vida, em que cada um corre como pode, numa pista de atletismo, por exemplo, todos partem do mesmo lugar. 

Essa condição confere aos grandes times e jogadores uma grande responsabilidade. Não basta fazer bonito só dentro do campo, da quadra ou piscina: é preciso ir além. Não interessa, por exemplo, se gritos homofóbicos ou óleo em praias não impedem o desenrolar de uma partida. Eles interferem na vida do torcedor e na mesma sociedade em que o clube está inserido. Em suma, é uma questão de empatia. 

Seguindo essa lógica, é fácil entender protestos de jogadores, que usaram sua influência para causas importantes, como os que foram vistos no mapa acima: como poderia Muhammad Ali matar “os marrons do Vietnã” enquanto seus iguais “marrons” eram tratados sem o menor respeito em seu próprio país? O mesmo ocorre com campanhas: deveria o Sport Club do Recife se calar sobre a adoção de crianças mais velhas e adolescentes, quando alguns de seus torcedores fazem parte desse grupo, ainda sem um lar?

O esporte funciona como uma grande celebridade, que tem voz, peso e ocupa as manchetes de todos os jornais, revistas e sites existentes. Todos os holofotes são voltados a ele, atentos aos seus posts no Instagram e às suas atitudes, como ocorre com influencers digitais, criticadas caso não usem os produtos que recomendam, ou seja, não vivam o que pregam (o que é uma outra questão, à qual cabe um texto próprio). O que ele diz vira moda e é replicado por seus fãs no mundo todo, ou, pelo menos, vira polêmica e motivo de debate. O que faz, também. Com tanto poder nas mãos, cabe a ele decidir o caminho da sua própria arte: a beleza, a mensagem, ou, talvez, uma mensagem bela.

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