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Náutico, um sentimento que nunca vai acabar

osmar cordeiro

O grande dia tão esperado por milhares torcedores apaixonados pelo vermelho da luta e branco da paz enfim tinha chegado, era dia de sair do inferno, da masmorra da serie C que vinha por afligir toda a torcida do Náutico. Um time com tanta história e tradição, que não cabia de maneira alguma na terceira divisão.

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Na Avenida Rosa e Silva, não era possível avistar mais nada além das cores do alvirrubro dos aflitos, completamente tomada por uma multidão que gritava com muito amor do fundo da alma as sete letras mágicas N-Á-U-T-I-C-0. Com uma festa tão bonita na recepção do ônibus do seu time, que impressiona a todos que veem tal imagem.

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Era o momento de sair onde nunca deveria ter entrado e que por dois anos vinha sendo uma realidade presente na vida do timbu, á um ano atrás o time já havia deixando a vaga escapar por entre os dedos, agora teria de ser diferente e o que fazia com que muitos acreditassem nisso foi o fato de decidir em casa, na sua verdadeira e única casa o caldeirão dos Aflitos.

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Enfim o relógio marcava ás 18:00, horário da guerra pelo acesso do timbu começar definitivamente. A torcida vinha fazendo sua parte, lotou o estádio e mostrou total apoio ao time. Porém quando a bola rolou a confiança deu lugar á tensão, o time do Náutico estava apático e com problemas para trocar passes. Então veio o primeiro grande golpe sobre a equipe mandante, o Paysandu marcava um gol sai á frente do placar, para desespero da torcida, o que era ruim podia piorar se não fosse o carrinho salvador de Camutanga tirando a bola quase em cima da linha. O memento era horrível para o timbu que não consegui criar nada, indo ao intervalo perdendo por 1x0.

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No segundo tempo o treinador Gilmar Dal Pozzo propôs uma substituição para reorganizar o meio campo timbu ao colocar Jonathan na partida. O Náutico até pareceu mais motivado no início da etapa, mas tudo veio abaixo com o segundo gol do papão e um balde de água gelada que caiu em cima de todos que apoiavam o alvirrubro. Após o segundo gol começou um silêncio ensurdecedor, todos os que gritavam e apoiavam no início agora estavam abatidos e calados como se fosse um funeral.

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O que parecia um eminente e triste fim para o timbu, se tornou um recomeço, quando Alváro descontou o placar, deixando o Náutico vivo no jogo novamente e a sua torcida fez o estádio ferver feito um caldeirão. Precisando correr contra o relógio para manter o sonho do acesso vivo, os alvirrubros foram para cima, movidos pelos gritos de sua nação. Oportunidades foram criadas, mas o placar seguia inalterável, a bola parecia dançar próxima a área rival, a cada cruzamento na área era aquele bate-rebate que paralisava aos que viam, era como se a bola dissesse “me chuta!!” mas nada de entrar na baliza.

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Apatia e drama eram nítidos, quando a placa dos acréscimos subiu, alguns já aparentavam sentir a derrota. Mas nos momentos em que tudo parece perdido, o surpreende reserva as melhores emoções, e no ultimo lance da partida um pênalti é marcado para o Náutico, que fez tudo sair do lugar. Ninguém conseguiu se controlar, com aquele momento, uma mistura de sentimentos, alegria, ansiedade e nervosismo estavam no ar e Jean Carlos tinha a chance de deixar o placar igual.

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Durante o jogo varias lembranças de antigos confrontos vieram á tona, após o primeiro gol do Paysandu vieram lembranças do duelo contra o Barueri em 2011, jogo em o náutico venceu de virada, a torcida ainda parecia confiante. Com o segundo gol do adversário, o otimismo deu lugar á frustração, e jogos decepcionantes como os contra Oeste e Bragantino vieram á cabeça. Quando o Náutico descontou o marcador brotou um sentimento de “eu acredito”, e na hora da cobrança do pênalti foi o momento de maior nervosismo. Um pênalti decisivo num jogo de suma importância, fez a lembrar do jogo contra o Grêmio em 2005, a famosa batalha dos Aflitos, mas dessa vez com a chance de um final feliz.

  

Quando Jean Carlos foi para a cobrança, alguns olhavam fixamente para a bola, já outros se recusavam a por os olhos no lance de tamanha apreensão, mas no momento em que a bola estufou a rede todos comemoravam euforicamente. A disputa por pênaltis viria na sequência, mas a sensação que se passava no estádio é que era apenas questão de tempo para que o acesso fosse alcançado. Um gol nos momentos finais aparentava que tinha que ser daquela forma: sofrida, suada, mas histórica.

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As primeiras penalidades foram convertidas, até que se chegou á terceira série de cobranças, foi quando William Simões converteu sua cobrança e Jefferson fez dos Aflitos pulsar ao defender a penalidade. Com a vantagem estabelecida, o Náutico foi para a última série precisando apenas converter sua cobrança. Foi quando Matheus Carvalho tratou de selar a classificação exorcizando alguns fantasmas que rondavam o timbu, dando início a uma das mais belas festas do futebol ultimamente.

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A torcida correu eufórica para dentro do campo, que mais parecia um formigueiro tingido de vermelho e branco, um verdadeiro carnaval foi feito no gramado dos Aflitos. Ao fim, aquela cena mostrou que aquilo não era apenas futebol, era paixão, amor de milhares de pessoas por uma agremiação centenária. Que faz seus torcedores sofrerem e vibrarem em seus jogos, com louvor e devoção com se aquilo fosse uma religião. Toda festa feita ao final, significava muito mais que a alegria de um acesso, mas sim a chance de um recomeço, desta vez com a organização e união necessária para acreditar num ressurgimento.

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