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Desventuras em série

paloma almeida

É difícil gostar de futebol americano. Tenho uma série de justificativas que posso usar para sustentar essa afirmação. O povo te olha com desconfiança, quase como se fosse doença. Minha família por parte de pai - tricolores doentes - acham que não me levaram o suficiente ao Arruda na infância. É hilário. Ninguém entende a dor de ter que esperar 6 meses pro início de uma temporada e ver ela passar voando. De juntar aquele dinheirinho suado pra pagar o pacote de canais específicos da TV fechada, porque a NFL é restrita a uma emissora no país. Claro, quem tem futebol disponível os 365 dias do ano, manhã, tarde e noite, não entende mesmo. 

Todo começo de temporada é mais do mesmo. Eu tentando explicar minha adoração pela bola oval, que a league não é só Super Bowl, que cada partida também tem a mesma dose de emoção, ou até mais, do que um jogo de futebol.  Vejo os olhos começarem a se revirar antes mesmo de concluir a resposta da primeira pergunta. E esse Super Bowl? Bendito super mega blaster evento final, com esse halftime show e seus eternos 15 minutos, que chega a ser mais divulgado que uma temporada inteira de jogos? Lady Gaga? Até gosto, mas tô pagando o pay-per-view pra ver o jogo, até a próxima! 

As estratégias de marketing da NFL são pesadíssimas, quem assiste sabe. E até quem não acompanha conhece ao menos o Super Bowl, já que as propagandas dele são um evento à parte. Totalmente megalomaníacos, assim como os comerciais e trailers milionários (quase bi) que uma multidão de pessoas espera pra ver no intervalo. Não é a toa que os 30 segundos mais caros da televisão mundial pertençam a league. Só no ano passado, os anúncios de meio minuto chegaram quase na casa dos U$6 milhões. É excelente pra liga e o cenário econômico, porém odeio comerciais e odeio o show do intervalo. Me julguem. 

Mas na lista das piores coisas, uma das unanimidades é a dificuldade em encontrar alguém pra comentar o pós jogo. Aquela partida insana que você quer gritar pro mundo que aconteceu, porém não pode. Porque não vão entender. Tipo a de ontem, 8 de setembro de 2019. Sei que muita gente não espera muito no início, mas pra mim já foi um acontecimento.

Primeiro Sunday Night da temporada. Pittsburgh Steelers contra New England Patriots. Doze anéis reunidos em campo pela primeira vez na história da NFL. Particularmente, só de mencionar New England já faz a urticária aparecer. Atuais campeões, campanha anterior perfeita, ataque e defesa fora do comum, além de ter o ‘marido da Gisele’ como quarterback. Um nojo. Mas a gente têm o Big Ben. Ou eu achei que tinha. Na verdade ele estava lá, não que isso tenha feito alguma diferença. Apesar de todas as expectativas, os Patriots mostraram sua superioridade vencendo a partida por 33 a 3. Jogo fácil. Na verdade, fácil até demais. Quem espera tanto não quer ver uma surra dessas de cara. A gente até pensa que pode acontecer, mas acreditar no time sempre em primeiro lugar. 

“Não achei que esse amarelo era tão ruim assim, jogasse teu dinheiro no lixo”, falou meu pai assim que o jogo terminou. O dinheiro do escárnio foi o que paguei pela camisa do bendito do Big Ben. Ou Ben Roethlisberger pros íntimos. Um nome de peso pra quem acompanha de perto a história do Steelers. Completando 15 temporadas em campo pelo Steelers em 2019, dois títulos de Super Bowl e uma carrada de números em jardas e touchdowns no currículo, um dos quarterbacks mais premiados da liga agora precisa provar pra painho que os 400 conto que eu paguei numa camisa dele foram dignamente bem gastos. Como eu já disse, é difícil gostar de futebol americano.

©2019 por Ana Carolina Nunes e Danielle Santana. Orgulhosamente criado com Wix.com

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