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Coração e nervos, testando…!

LUANA GUIMARÃES RAMOS

Se tive unha não me lembro, se tive coração batendo normalmente não me lembro igualmente, e a voz já não é a mesma desde 2005, ano que torcedores do Náutico gostariam de apagar da memória. Foi o  jogo mais bizarro e atípico da história do futebol Brasileiro. Eu, na época criança, não conseguia ver o jogo direito de tão lotado que estava o caldeirão, mas ao alcance de minha limitação, estava minha voz pulsante, meus gritos, e a cada 10 min de partida: um flash! Jogo terminado, decorrente de choro e agonia, tornei meu coração forte. "É um desafio torcer para o Náutico filha, se acostume meu bem", falou meu pai tentando me consolar da frustração enorme. 
 

Domingo, 8 de setembro de 2019. Lá estávamos nós, série B e tensão também faziam parte do roteiro já vivido, em diferentes condições. Queríamos vitória, não para ganhar o título, mas pra subir depois de dois anos na série C que mais pareciam duas décadas. Estava eu, pensando em voz alta _ colocarei novamente meu coração à prova. Meu pai sorri concordando. Inicia a partida, Náutico joga mal, defesa fraca permite um gol logo ao primeiro tempo, ataque tenso, sem jogadas, sem meio de campo.
 

Estávamos do lado da barra em que o Paysandu atacaria no segundo tempo, também ao lado estava estacionada a ambulância. É, vi duas pessoas atendidas desmaiadas. Meu pai, em tom irônico, comentou _ Nem começou o segundo tempo e o Náutico já tá matando torcedor. Rimos como forma de descontração.

Inicia-se novamente a partida, timba joga mal igualmente, ataca um pouco mais, mas sem jogadas trabalhadas, sem domínio de bola e perdendo todas as disputas de bola. Levou outro gol. 2x0 placar que enterraria o Náutico na terceira divisão. Olho para o lado e só vejo desespero, uma criança que segurava a placa "Eu acredito" estava calada, aparentemente triste. Torcida alvirrubra silenciada, enquanto ouvíamos torcedores bicolores cantando vitória, quem diria, antes do tempo.
 

"O jogo só termina quando acaba". Frase mais certa de todas. Timba reage, faz um gol e o jogo muda. Torcida empurra e time tenta em campo até… bola na mão na pequena área, Pênalti, 2x2 êxtase em campo e nas arquibancadas. Grito com o resto de voz que me sobra, mão vermelha de palmas, unhas já se foram há tempos, seguimos. Curiosamente estava "tranquila", acreditava de verdade, estávamos com moral. E finalmente, acabou e desta vez: ganhamos!!! Invadimos o campo e pulamos até ficar sem fôlego. Foi a falta de ar mais gostosa de sentir, que alívio. É, ninguém me disse que seria um desafio coronário torcer pro timbu, analogia paradoxal, é meu time do coração, justamente o órgão que é posto à prova em partidas decisivas. Na batalha dos aflitos 2, sobrevivi e o coração continua a bater, agora, feliz. 

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