Torcedores se unem para mudar estatuto do Santa
Movimento Intervenção Popular Coral quer um tricolor mais democrático e popular
reportagem: Maria eduarda frança
edição: gabriela castello buarque
O “Intervenção Popular Coral” não tem motivações políticas, nem aliança com nenhuma chapa ou grupo eleitoral. O objetivo é, unicamente, realizar uma reforma popular e inclusiva do estatuto do clube. O movimento ganhou força na internet a partir de um grupo de amigos insatisfeitos com a situação política do clube que decidiram criar um grupo no WhatsApp para conversar sobre a realidade do tricolor e mobilizar a torcida para transformar o Santa Cruz em um verdadeiro “time do povo”. No início apenas 9 ou 10 amigos integravam o grupo. Hoje são mais de 500 pessoas, com quase 1,9 mil seguidores no Twitter e 3,5 mil no Instagram.
Em 2018, a venda de ovos no CT do Santa Cruz, estratégia para arrecadar dinheiro para o clube, gerou uma grande polêmica e discordância, tanto por parte dos torcedores quanto dentro da gestão do clube. “O Santa Cruz estava vendendo ovos, mas o próprio clube repudiou a venda. Nos perguntamos, pra que Santa devemos torcer? Quantos "Santa Cruz" há dentro do SCFC?”, relatou Marjourie Côrrea, uma das gestoras do movimento sobre como a polêmica deixou clara a necessidade de uma melhor comunicação interna e com os torcedores.
Jhonny Guimarães, idealizador do movimento, conta que em 2017 participou das eleições do clube como advogado de uma das chapas e percebeu diversas irregularidades. “Analisei juridicamente o estatuto e percebi que a maioria dos mecanismos de manutenção do poder do clube residiam nele”. Assim, após uma conversa com outros torcedores preocupados com a realidade do Santa Cruz, deu-se início à idealização de um projeto de reforma.
Uma pessoa dentro do clube era fundamental para o movimento: o 1° secretário do Conselho Deliberativo, Diogo Melo. Ele já vinha lutando e pautando grandes reformas democráticas e modernas ao longo dos anos e que conversavam com as ideias do movimento. No entanto, há três semanas, Diogo anunciou a renúncia ao cargo por meio de uma carta pública. “Os setores conservadores do clube estavam trabalhando de forma intensa para que essa modernização não acontecesse”, dizia um trecho do comunicado. Esse foi o estopim para que o movimento ICP convocasse uma reunião que atraiu mais de 120 torcedores no escritório de Jhonny Guimarães.
DIAS DE LUTA, DIAS DE GLÓRIA
Atualmente, os torcedores tem se mobilizado de inúmeras formas. O movimento tem apoio da mídia e realiza reuniões quinzenais para discutir os próximos passos e ações do grupo. Atos pacíficos nas ruas, panfletagem e até pontos móveis para recolher assinaturas estão sendo realizados para que a iniciativa consiga uma assembleia geral de mudança do estatuto.
Para que a assembleia aconteça é necessário que o ICP recolha 1000 assinaturas, equivalente a um quinto dos sócios do Santa Cruz Futebol Clube. Atualmente, o movimento já possui mais de 600 registros. Na terça-feira (24) uma reunião extraordinária do Conselho Deliberativo do Santa Cruz debateu quem seria o novo 1° secretário do conselho, em substituição a Diogo Melo, e as possíveis reformas do estatuto já que o prazo final de modificação do documento era segunda-feira (30). O debate foi um grande avanço para o movimento e a torcida, inclusive, foi até o estádio do Arruda acompanhar as decisões, já que não podiam participar da reunião.
O resultado da reunião, mesmo que ainda não seja conclusivo, foi considerado uma vitória pelo ICP. O clube, por meio do conselho e da comissão da reforma do estatuto, mostrou que reconhece a credibilidade do movimento e aceitou a proposta de prorrogar o limite da reforma do estatuto para 30 de outubro. Até lá, esperam mais convergência de ideias entre os torcedores e o clube, promovendo um estatuto popular. O próximo passo será uma reunião aberta com a torcida dia 19 de outubro. “Queremos abrir as portas do clube para a torcida participar e deixar que quadros que têm capacidade de gerir o clube assumam”, declarou Jhony em um tom satisfeito.