A expressiva arte do esporte
Uma análise de como, através dos anos, esses dois pólos sociais dialogam de forma harmônica, sem que ninguém percebesse essa conexão
reportagem: barbara rodrigues
edição: gabriela castello buarque
Discordando do pensamento “Esporte é esporte, arte é arte”, presente na crônica publicada em julho de 2007, no saudoso website Trivela, com os dizeres, “não conheço uma modalidade de pintura que se chame pintura esportiva. Nem de música. Ou de teatro. Ou de qualquer arte. O motivo é óbvio: é arte, não é esporte”. Existem estudos que trazem análises que indicam que o esporte, não só no Brasil, como também ao redor do mundo, se tornou uma importante diretriz na formação da cultura de um povo.
É notável a participação do esporte como “personagem” e até mesmo como inspiração em diversos trabalhos artísticos como pinturas, filmes, músicas, entre outros. Além disso, há tempos que a prática esportiva deixou de ser considerada apenas um hobbie e passou a ser um insumo político e social.
Diante de todas essas importantes participações do esporte na história e no que a constrói, então, por quê ele também não pode ter um lado artístico? Por isso, a equipe da Com Texto traz para você algumas das formas artísticas nas quais o esporte já foi representado, e mostra que esses dois pilares da sociedade podem sim ter uma ligação e gerar ótimos frutos.
O CANTO DAS MULTIDÕES
Geralmente, quando se fala em música e esportes,o primeiro pensamento que vem a mente é o da grande participação destes na cultura e sociedade. Ambos têm o poder de arrastar multidões e dar representatividade a todos os tipos de grupos sociais.
No entanto, a música e esporte mantém uma relação paralela há décadas. Começando pelo exemplo clássico dos esportes com um viés mais artístico, como a ginástica rítmica e a patinação no gelo, , nessas modalidades a presença da música é regra. As apresentações, os movimentos e a interpretação dos atletas dependem uma trilha sonora, a música define, quase que diretamente, qual será o próximo movimento da performance, um rodopio ou apenas leves movimentos com a cintura.
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No Brasil, a realidade não fica tão distante. O esporte considerado da nação, o futebol, mora no coração da maioria dos brasileiros, dele vieram alguns dos episódios mais emocionantes, e alguns os personagens mais marcantes para o público. Quem não lembra da música “Fio Maravilha”, do Jorge Ben Jor? Para quem não sabe, a música é uma homenagem a João Batista de Sales, ou só Fio Maravilha, um dos mais folclóricos personagens do Flamengo. A canção, de 1972, foi inspirada em uma jogada protagonizada por Fio, considerada genial na época, no amistoso Flamengo x Benfica.
Jorge Ben Jor, apaixonado pelas cores rubro negras do time, juntou o orgulho do calor da emoção ao talento inigualável do artista, descrevendo a jogada como:
“Um gol de anjo, um verdadeiro gol de placa, que a galera agradecida assim cantava. Fio Maravilha, nós gostamos de você, Fio Maravilha, faz mais um pra gente ver".
Assim, “Fio Maravilha” se tornou um hino da torcida flamenguista, e por muitos anos foi cantada em coro por milhares de torcedores nos estádios.
“...Tabelou, driblou dois zagueiros; deu um toque driblou o goleiro; só não entrou com bola e tudo porque teve humildade...”
LENDÁRIA, FOLCLORE DO IMAGINÁRIO EM RECORDAÇÕES
Infelizmente não existem registros da tal lendária jogada, apenas o que Ben Jor o que o cantor descreve na canção, estimulando a imaginação do torcedor há quase cinquenta anos. O cantor não só uniu a arte e o esporte em uma canção, mas também todo o amor e emoção que ele e a torcida do Flamengo sentiram.
Para quem é fã de esporte e não dispensa uma boa música, a nossa equipe preparou uma playlist das melhores canções sobre o assunto:
A SÉTIMA ARTE DO ESPORTE
Não é de hoje que o esporte vem sendo retratado de maneira exemplar nas telas de cinema aventura, ação, superação e até mesmo romances fazem parte do leque de opções para aqueles que curtem observar o esporte de uma maneira mais dramática.
Créditos: YahooSports
O espectador pode ir de filmes com muita ação, porrada e vingança, como “Creed”; até um romance besteirol repleto de melação, historinhas gostosas e piadas manjadas, que é o caso da comédia romântica “Amor em Jogo”. Não existe uma receita de bolo quando o assunto é cinema e esporte.
Nos produtos, cinema usa o esporte como base, mas não como força predominante sobre o produto final. Até porque, se for apenas para assistir ao esporte, basta ligar no canal esportivo e ver o clássico da Champions League, ou o ao vivo do UFC.
A graça de um filme esportivo é exatamente essa, a possibilidade de uma história cativante com ensinamentos (Menina de Ouro, 2004), muitas gargalhadas (El Chanfle, 1979), reflexões sociais (Duelo de Titans, 2000), análise política (Invictus, 2009), inclusão social (Meu Nome é Rádio, 2003), aproximar o ídolo, com uma bela biografia (Ali, 2001), e, finalmente, relembrar momentos históricos de uma maneira emocionante, que só as grandes telas podem proporcionar (A História Oficial da Copa do Mundo FIFA, 2017).
Em suma, todo mundo gosta de um bom filme, certo? Por isso, a força na junção da sétima arte com o esporte está justamente na sua variedade, pois ela cativa e aproxima até quem não é fã das atividades esportivas.
ÓLEO SOBRE TELA FC
É interessante pensar em como algo considerado tão “grã-fino”, como a pintura, pode se conectar com uma coisa tão popular quanto o esporte. Com o óleo sobre tela que também ilustram muitos quadros esportivos.
É importante lembrar que grande parte das obras de pintores clássicos vinham da imaginação do artista ou de momentos e memórias afetivas inspiradoras, , por essa razão essas duas atividades tão indiretas se entrelaçaram há anos. esporte também faz parte do cenário cultural de um povo, e a arte dá cor a isso. Partindo deste sentimento, o esporte se torna molde de inspiração dos artistas, e os quadros surgem como testemunho, uma lembrança.
Assim, o esporte finalmente ganha cores em aquarelas. Um bom exemplo é o quadro Corrida de Longchamp (França, 1875), do impressionista Édouard Manet. O artista gostava de ir muito além dos tão reverenciados retratos. Manet, em algumas de suas pinturas, representou a cultura de massa, dando acesso aos panoramas sociais da Paris no fim do séc XIX.
Corrida de Longchamp
Edouard Manet
França, 1875
Em Longchamp o artista ilustra exatamente isso, um retrato turvo da burguesia parisiense da época. Os personagens, concentrados em um hipódromo lotado, as roupas distintas que mesmo no séc XXI se identifica como algo “classe A”, todos surpresos e imersos ao assistirem das arquibancadas o novo divertimento exclusivo. No centro, cavalos a todo vapor, não há rosto nos atletas, porém Manet conseguiu deixar implícito os seus esforços na montaria, e, por fim, nos cavalos, as grandes estrelas do quadro, pela poeira levantada aos cascos nota-se as pisadas fortes no chão, é como se quase desse para ouvi-las também.
Corrida de Longchamp foi só um exemplo entre muitas outras obras. É importante lembrar sempre de que a pintura é a ilustração da cultura, sua representação visual inclui, principalmente, a ilustração popular. O esporte e a pintura
fazem parte da cultura, de uma forma em que o clássico e o popular interagem.
Confira outras pinturas que ilustram atividades esportivas abaixo: